O julgamento de Al Capone

Com 13 anos de impunidade, o “homem mais honesto dos Estados Unidos”, como ele dizia ser, apontou o dedo para o Juiz e gritou. “Você não tem nada contra mim. Nada”. ( Robert de Niro no papel de Al Capone).

“Não fume Mister Capone. Pare de fazer pose para os fotógrafos. Cale-se. Neste tribunal quem manda sou eu”. Juiz James Wilkerson.

Arrogante, dono de si, Capone contava com os mobilizados (ganhando dólares) da máfia política para pressionar e amedrontar o Juiz e os Jurados. Não havia TV nem Rádio. Mas, Capone sabia usar fotógrafos e jornalistas. Muitos deles recebiam Money do poderoso chefão.

Seus pais vieram do nordeste da Itália empobrecida em “pau-de-arara” de navio cargueiro. Desembarcaram no Brooklyn, NY. Na casa de seus tios, Alphonsus Gabriel Capone nasceu no dia 17 de janeiro de 1899.

Estudou pouco. Escrevia mal. Aos 15 anos trabalhava numa fundição de ferro velho, tipo metalúrgico da época. Passou para uma fábrica de embalagens.  Cortando papel um dedo da mão de Capone foi decepado.

A Bolsa Família

Tido como carismático, ele sabia cativar frustrados, mal informados, e seduzir descontentes. Dominava os sindicatos influenciados pela revolução comunista de 1917 na Rússia.

Criou “Bolsa Família, Bolsa Cultura, Bolsa Escola”. Organizando as propinas por prioridade com Mensalão Capone profissionalizou a corrupção.

Já faturando alto, Capone separou dinheiro para criar grupos responsáveis por construir alojamentos, casas para desempregados, distribuir cesta básica. Os comedores populares e o sopão de Capone ficaram famosos. Eram as primeiras Bolsa Família, Bolsa Escola...

Mandou construir igrejas, escolas, orfanatos. Patrocinava as grandes festas religiosas. A de S. João, com muita comida e tarantela, (tipo nosso forró), a sua preferida. Ele se vestia como camponês italiano (tipo nosso caipira).

Pardo, baixinho, pescoço enterrado, sentindo-se discriminado, casou-se com uma irlandesa.

Sua forte ligação com sindicatos não tinha nada a ver com socialismo. Ele usava os sindicatos para eleger seus protegidos e protetores. Para ganhar dinheiro. E mandar em Chicago.

O Mensalão

Com Mayer Lansky, seu homem-ideia, bom para montar esquema de corrupção, Capone criou um setor especial para dar dinheiro aos que o apoiavam. O Mensalão pagava com pontualidade.

Uns iam buscar a grana no “banco”. As lideranças sindicais, religiosas, os políticos, policiais, magistrados, recebiam o Special Delivery em casa. Para lavar dinheiro em negócios “legítimos”: construção naval, usinas, estradas, edifícios, clubes, Al Capone se juntou as empreiteiras.

A lenda espalhou: Capone é phoda. Capone Pai dos Pobres. Capone gênio dos negócios. Capone para governador de Chicago. Capone para presidente dos Estados Unidos. Como uma lula gigante ele estendeu seus “braços” para Nova York, New Orleans, Miami. Levou dinheiro para Cuba.

Com simpatizantes na imprensa. Com gente lhe conseguindo medalhas, honrarias, Al Capone foi capa da TIME, a revista mais influente dos Estados Unidos, e recebeu o título de

Homem do Ano ao lado de Albert Einstein e Mahatma Gandhi. Al Capone que não lia livros e gabava-se liderar e “governar” sem diploma universitário, tornou-se o Rei de Chicago. (Na imagem 2 Capone e o prefeito de Havana).

A Bolsa Cultura

Para muitos, pelo American way of Life, não basta ser rico. Tem que ser famoso. O jazz e o cinema deram ao baixinho semianalfabeto, contador de piadas sem graça, falador de palavrões, o que lhe faltava: circular entre famosos, aprender a vestir-se, a comer, escolher vinho, hospedar-se em suítes de luxo, paquerar mulheres bonitas.

Charles Chaplin e Rodolfo Valentino, ídolos do cinema mudo, lotavam cinemas.

 

O cinema entrava em sua fase industrial. Moças e rapazes procuravam Capone para uma chance de ir a Los Angeles, tentar Hollywood. Nessa onda Capone criou o Bolsa Cultura. Investiu na construção de cinemas, teatros, aulas de música, clubes noturnos com shows. Ajudava músicos, atores, cantoras.

Para entrar no cinema falado, Chaplin queria ter o seu próprio estúdio. Capone bancou a construção da Universal Pictures. Mandava presentes para Valentino. Bancou o funeral do artista, o mais concorrido e duradouro que a América jamais tinha visto.( Na terceira imagem acima Capone e Chaplin)

Louis Armstrong, a grande revelação.

A divulgação e o fortalecimento do Jazz devem muito a Capone. A segregação racial era pesada. Nos assentos dos ônibus, escolas, banheiros públicos para negros, outros para brancos. Capone deu permissão para os músicos negros ensaiar nos seus clubes. Muitos comiam e dormiam nos bordeis do Chefão.

 

A fama de Louis Armstrong e seu potencial lucrativo eram tão grandes a ponto de mafiosos brigarem pelo “passe” dele. Capone resolveu a parada indicando seu amigo Joe Glaser para cuidar da carreira e da vida de Armstrong. O que ele fez até sua morte em 1969.

Bessie Smith, Josephine Baker, Duke Ellington, Count Basie, Leonel Hampton, Ella Fitzgerald, eram bem recebidos nos clubes de Capone. Ele gostava de ouvir novos talentos do jazz, Capone gostava de ser o Rei da Noite.

Com o fim do cinema mudo, os filmes de gângster lotavam os cinemas. Versões de Capone dominaram o mercado cinematográfico. O filme Poderoso Chefão (Marlon Brando) foi o último da grande série.

    

Mas, os filmes não contam que Herbert Clark Hoover, Presidente dos Estados Unidos, declarou guerra ao crime organizado.

A corrupção dominava. A violência crescia. O combate ao contrabando de bebidas, cigarros, charutos, aos assaltos a caminhões transportadores de alimentos, roupas, mercadorias em geral, mostravam-se ineficientes. Os Estados Unidos pareciam perder a guerra contra o crime organizado.

Presidente é para tomar decisões pelos interesses do pais.

Herbert Hoover mandou Edgard Hoover, Chefe do FBI, (não eram parentes) criar uma Força Tarefa para fixar leis contra o crime organizado. Especialmente para prender Al Capone. Localizar e demitir seus comparsas mafiosos nas repartições públicas, na Polícia, no Legislativo, no Judiciário.

Os Intocáveis

Honestidade e bravura: os requesitos da Força Tarefa. Elliot Ness, o escolhido para chefiar o grupo, graduado em Direito, funcionário da Receita Federal, especialista em investigações bancárias, sonegações, lavagem de dinheiro, “doações”.

O grande problema de Ness: homens comprovadamente honrados. Ele os queria com menos de 30 anos, de preferência solteiros, pique para ficar na “campana”, trabalhar longas horas, e outras qualidades:  bons motoristas, saber grampear telefones, usar armas. Funções realizadas, atualmente, pelo FBI, ou Policia Federal no Brasil, com ordem judicial.

A Força Tarefa chegou a ter 50 homens.

Ficaram 9. Sendo 5 permanentes com Eliot Ness: os únicos que sabiam como e onde as operações aconteceriam, evitando vazamentos para policiais não serem contatados por mafiosos oferecendo muito dinheiro pelas informações da Força Tarefa, (tipo Mãos Limpas na Itália e Lava Jato no Brasil)

Nos primeiros seis meses, fechando bares, destilarias, bordeis, a Força Tarefa causou ao Sindicato do Crime prejuízo de um milhão de dólares. Sabendo que o salário de Elliot Ness era 3 mil dólares ANO, Capone ofereceu 2 mil dólares MÊS.

Certa noite, jogaram pacotes de dinheiro dentro do carro dos agentes, esses jogaram os pacotes de volta para os mafiosos. Ofereceram carros, casas, sítios, viagens ao exterior. Os agentes de Ness eram incorruptíveis

Todo mundo sabia que Ele era o Chefe. Mas, Capone continuava intocável. Petulante, fazia piadas de juízes e de autoridades. Um dia, cercado de companheiros e fotógrafos, ele se vangloriou: “Se eles não me prenderem, um dia, eu é que vou prende-los”.

Todo mundo sabia como ele operava. Todo mundo sabia ser ele o Chefe das quadrilhas. Todo mundo sabia da expansão de seus negócios a outros estados e ao exterior.

Porém, não encontraram recibo da compra do sitio nos arredores de Chicago. O duplex na Florida, é claro, não estava no nome dele. Não havia uma foto de Capone recebendo a bufunfa. Ele tinha bons contatos e admiradores corruptos por toda parte. Se denúncias haviam, elas se perdiam na cumplicidade e na processualística.

Quando a Justiça é independente, ágil, não há crime perfeito.

A Força Tarefa sabia de onde vinha a dinheirama em sacos. Quem pagava. Quem recebia. Porém, Capone estava “limpo”. Seus advogados e companheiros diziam contar com a opinião pública dos trabalhadores, dos Sem Terra, Sem Teto, da classe artística. Ele nadava na crista da onda dizendo “nunca na história deste país teve alguém como eu”.

Elliot Ness (tipo Moro do Brasil e Falcone da Itália) e seu pessoal, trabalhavam, pesquisavam, até que em 1931, encontraram: Al Capone devia mais de 200 mil dólares ao fisco. A promotoria pediu 34 anos de prisão.

Os advogados e os companheirois dele usaram a mídia e os mobilizados para evitar a prisão. Nessas alturas, Al Capone era “vítima de perseguição” e “de golpe” de seus adversários. Socialistas sindicais levantaram a tese novidadeira de ser Capone “réu político da classe dominante”.

Tentaram amedrontar e subornar o juiz James Wilkerson.

Descobriram os endereços dos jurados. Ofereceram emprego e muito dinheiro. No dia do julgamento, depois das partes se pronunciarem, o juiz James Wilkerson anunciou a imediata substituição do corpo de jurados. Cortaram a cabeça da cobra.

No dia 24 de outubro de 1931, Capone foi sentenciado a 11 anos de prisão por sonegação de impostos. Os dois primeiros anos ele cumpriu na prisão de Atlanta. Depois foi para à prisão de segurança máxima de Alcatraz.

Diagnosticado com sífilis, enfraquecido pela doença e mentalmente incapaz, viveu seus últimos anos isolado no sítio da família. Al Capone, o gangster, Rei de Chicago, saiu da vida para entrar na história no dia 25 de janeiro de 1947.

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Nota: O Repórter na Historia, nesta edição, usa o espaço www.diadobrasil.com.br. Ver Jota Alves-FACEBOOK.